quinta-feira, 21 de agosto de 2014

PROFESSOR DA UNICAMP, DESCOBRIU FALHAS NA URNA ELETRÔNICA.



21.08.2014 | Postagem: Paulo Sérgio |   download
Após participar dos testes que apontaram em 2012 a vulnerabilidade das urnas eletrônicasutilizadas no Brasil, o especialista em segurança de computadores e professor da Unicamp Diego Aranha planeja a criação de um grupo de pesquisa na universidade de Campinas (SP) para a criação de um aparelho que garanta o voto eletrônico de forma efetivamente segura, segundo ele. Entre obter financiamento e uma equipe de apoio de alunos e outros professores, o cientista da computação estima que dentro de quatro ou cinco anos consiga chegar a um modelo ideal para apresentar à comunidade. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contesta as críticas e afirma que trabalha com um sistema que em 18 anos nunca registrou nenhuma fraude.
Unicamp já possui um grupo de pesquisa especializado em segurança de computadores, segundo o professor Diego Aranha. A proposta dele agora é reunir alunos e professores para uma subdivisão do grupo que trabalhe exclusivamente com voto eletrônico. “A ideia é me debruçar sobre um sistema que seja verdadeiramente seguro”, disse.
Entre os dias 3 e 6 de novembro, Aranha e os outros poucos estudiosos sobre o tema no país realizarão um workshop sobre votação eletrônica dentro do Simpósio Brasileiro de Segurança da Informação, em Belo Horizonte, para debater os componentes ideais para a construção desse sistema que, para ele, seria o mais seguro.
Diego Aranha, Você Fiscal (Foto: Reprodução)Diego Aranha, pesquisador e criador  do
Você Fiscal (Foto: Reprodução)
Aplicativo
Enquanto tenta viabilizar o projeto para a criação da urna "ideal", o pesquisador de Campinas trabalha na elaboração de um aplicativo batizado de “Você Fiscal” (saiba mais abaixo) que tem como objetivo fazer uma auditoria colaborativa da apuração das eleições presidenciais deste ano por meio de fotos dos Boletins de Urna, que são impressos em cada seção eleitoral após a contagem dos votos. Até a noite de quinta-feira (7), 785 pessoas já haviam contribuído com a ideia por meio de um financiamento coletivo pela internet, que arrecadou até esta data R$ 48 mil.
“Quando fizemos os testes de segurança nas urnas em 2012, não precisamos de mais que cinco minutos para achar uma falha. A equipe teve acesso ao código-fonte da urna eletrônica e encontramos erros banais, que poderiam ser citados em textos acadêmicos sobre como não se deve fazer”, disse o professor. Este ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não autorizou novos testes de segurança, apenas representantes de partidos políticos, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ou do Ministério Público puderam - e ainda podem - vistoriar o equipamento e, por isso, o pesquisador teve a ideia de criar o aplicativo para celulares.
O secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Giuseppe Dutra Janino, afirma que qualquer mecanismo de fiscalização que seja isento e confiável é visto com bons olhos, mas contesta a fragilidade apontada pelo estudioso e enfatiza que, desde que a urna eletrônica começou a ser utilizada, em 1996, não houve nenhuma fraude registrada.
Urna eletrônica (Foto: Reprodução Globo News)Urna eletrônica é usada no Brasil desde a eleição
de 1996 (Foto: Reprodução Globo News)
Segurança x Vulnerabilidade
O pesquisador da Unicamp elenca alguns pontos em relação ao que considera equívocos no sistema usado atualmente pelo TSE, que ele teve oportunidade de testar durante a tentativa de ataque em 2012. Um dos questionamentos é com relação a não haver um registro múltiplo do voto, ou seja, uma documentação em chip ou papel, além da eletrônica, que possa amparar a apuração do voto virtual por meio de amostragem.
Em relação a isso, o gerente de TI do TSE justifica que equipamentos eletromecânicos, como a impressora, que eram usadas quando a urna foi implementada, são mais passíveis de falhas do que equipamentos eletrônicos. Além disso, segundo ele, o STF já julgou inconstitucional o mecanismo de impressão pela possibilidade de ferir o sigilo de voto quando, por exemplo, há algum problema técnico no aparelho e o fiscal da seção precisa intervir.
Outro ponto levantado pelo pesquisador é com relação à transparência no modelo adotado pelo TSE. Aranha defende, por exemplo, que o software usado na urna, que é guardado como segredo de estado, seja livre e com acesso irrestrito à população e à comunidade acadêmica. “Se um sistema é realmente seguro, ele não precisa ter essas restrições”, defende.
O representante do TSE defende-se no entanto, lembrando que as urnas ficam abertas durante 180 dias às vésperas da eleição para avaliação de partidos, OAB e MP. Ele diz que o Tribunal é favorável à realização de testes de segurança como o que foi permitido quando Aranha identificou os problemas na urna, mas afirma que eles serão promovidos conforme a necessidade, sem uma periodicidade pré-determinada.
A falha que ganhou mais repercussão ao ser apontada por Aranha durante os testes de 2012 foi a possibilidade de reordenar os votos cadastrados pelo equipamento a partir do Registro Digital do Voto (RDV), um arquivo que é disponibilizado aos partidos. Com essa informação mais a ordem de votação em uma seção eleitoral, seria possível descobrir quem votou em quem. Sobre esta falha, o TSE assegura que ela foi corrigida poucas horas depois de ter sido identificada.
No geral, para o pesquisador, o sistema não satisfaz os requisitos de segurança e, por isso, abrem brechas para ações fraudulentas, inclusive, sem deixar vestígios. Já o secretário de TI do Tribunal Superior Eleitoral afirma que já foram realizados dois testes de segurança com 27 planos de ataque e apenas a equipe de Aranha obteve êxito parcial. "Nós nunca registramos uma fraude em 18 anos. Isso é fato, e nós trabalhamos com fatos e não com inferências”, afirmou.
Você Fiscal
A ideia do aplicativo Você Fiscal é coletar fotos dos Boletins de Urna, que são impressos ao final da eleição e expostos publicamente por cada seção eleitoral e contêm o total de votos computados para cada candidato. As imagens são processadas pelo aplicativo e comparadas com a versão publicada pelo TSE.
Quanto mais pessoas participarem e tirarem fotos dos BUs nas seções eleitorais, melhor será o resultado, segundo o professor da Unicamp. Para isso, então, ele trabalha em uma solução para tornar popular o aplicativo, por meio de divulgação. Além disso, o pesquisador também tenta solucionar o problema de garantir a legibilidade das imagens enviadas pelos usuários, já que o BU é extenso e não é possível registrá-lo na íntegra com uma única foto.
G1
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