12.09.2015 | Postagem: Paulo Sérgio |
Carlos
Kennedy Witthoeft afirma que está “com a consciência em paz”. Durante
uma visita a São Carlos (SP), ele contou como conheceu a
fosfoetanolamina sintética, apontada por pesquisadores como um
tratamento alternativo para o câncer, por que quis doá-la e o que
aconteceu após ser preso e indiciado por falsificação de medicamento.
“Não tem como mensurar o que a gente sentia a cada pessoa que vinha
falar que estava curada”, disse.
O
catarinense relatou que conheceu a fosfoetanolamina em 2007. No dia 19
de março daquele ano, sua mãe teve uma hemorragia e exames apontaram
câncer no útero. “Ela tinha o coração fraco, não daria para fazer
cirurgia e nem quimioterapia, só radioterapia para dar mais qualidade de
vida, mas não a cura”, relatou.
Dois
meses após o diagnóstico, quando amigos e familiares julgavam que a
idosa de 82 anos não aguentaria por muito mais tempo, ele soube que
pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos
distribuíam uma substância para a doença. Pediu o telefone do
coordenador dos estudos, o professor Gilberto Orivaldo Chierice, e
ganhou as cápsulas.
“Minha
mãe não levantava mais da cama, dava duas, três mordiscadas no pão e
isso era a refeição do dia inteiro. Pedi para ela tomar o remédio e, no
terceiro dia, ela andou, desceu as escadas, foi à cozinha e disse: ‘Eu
queria comer uma sopa’”, narrou Kennedy.
Ele
afirmou que a melhora foi progressiva e, no 18º dia de consumo da
fosfoetanolamina, foi surpreendido. “Eu havia saído para ir aobanco e,
chegando em casa, uns 40, 50 minutos depois, a minha mãe estava no canto
do jardim segurando a enxada. Eu disse: ‘Mãe, o que tu queres com a
enxada?’. E ela disse: ‘Vou dar uma capinadinha’”.
Nesse
dia, ele deu a mãe como curada e ligou para Gilberto perguntando se
poderia indicar as cápsulas, mas ouviu que a produção era insuficiente
para atender mais pacientes. “Minha mãe era conhecida em Pomerode,
pessoas viam a recuperação e perguntavam o que ela tinha feito, se eu
conseguia para elas. Eu queria que amigos pudessem tomar, como podia
dizer que não tinha como fornecer? Eu perguntei então se eu podia
produzir”, contou.
“O
doutor Gilberto me perguntou se eu era químico e eu contei que não,
então ele disse que eu não poderia fazer, mas continuei insistindo
porque, se eu estivesse com câncer, queria que me dessem a fosfo. Disse:
‘O que eu tenho é muita vontade de ajudar essas pessoas, não adianta
ser químico e não ter vontade de ajudar’. Acho que esse argumento o
sensibilizou e ele perguntou quando eu poderia vir aprender”.
Kennedy
viajou várias vezes para São Carlos e a cada visita passava alguns dias
na cidade. Ao todo, acredita que ficou cerca de quatro meses aprendendo
a ser um químico prático e a sintetizar a substância. Quando finalmente
conseguiu, começou a produzir as cápsulas em casa e a distribuí-las de
graça.
Prisão
Kennedy
produzia as cápsulas na companhia da esposa, Aridina Gutknecht
Witthoeft, mais conhecida como Rita. Era ela que atendia as ligações e
conversava com as pessoas que pediam ajuda. “Quando o câncer aparece,
cai todo mundo, a família quer ajudar, o pai, o filho… Muitos ainda
recebem como sentença de morte. Ela atendia as pessoas e as confortava,
ficava uma hora, duas horas conversando. É preciso paciência, não é
fácil, mas ela tinha o dom para isso”.
No
começo, em 2008, ele conciliava a produção com o trabalho como
representante comercial, mas a demanda cresceu. Sensibilizadas, várias
pessoas começaram a ajudar e a dedicação passou a ser exclusiva. “Cada
curado trazia em média três, quatro pessoas”, estimou.
Mas,
no fim de junho deste ano, a produção cessou. Uma denúncia levou a
polícia ao imóvel e a Vigilância Sanitária apreendeu o material. Kennedy
passou 17 dias preso e foi indiciado por falsificação de medicamento,
uma vez que a fosfoetanolamina sintética não tem registro na Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
No
dia em que saiu da cadeia com um habeas corpus, Aridina passou mal. Ela
foi internada e, após dias na unidade de terapia intensiva (UTI),
faleceu em 1º de agosto, em decorrência de um aneurisma.
“Até
dois meses atrás eu morreria feliz. Não tem como mensurar o que a gente
sentia a cada pessoa que vinha falar que estava curada”, afirmou.
Entenda o caso
Na
última segunda-feira (17), o G1 divulgou a existência de processos
envolvendo pacientes com câncer e a USP. Eles pedem que a universidade
continue fornecendo as cápsulas da substância, mas uma nova norma da
instituição impede a distribuição sem o registro na Anvisa.
Segundo
a agência, o registro de um novo medicamento só pode ser solicitado
após testes clínicos e os pesquisadores da USP afirmam que a substância
foi testada em um hospital em Jaú, mas a parceria acabou e eles precisam
que uma nova unidade de saúde aceite concluir o estudo.
Fonte: Agora
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