quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Artigo de Ciro Gomes publicado na Folha de São Paulo nesta terça-feira (1º).



Quarta Feira 02 Janeiro de 2019 

                                                         O QUE ESPERAR DE 2019

Para quem, como eu, tem o coração ligado na vida do povo, é inevitável a percepção de que as esperanças da maioria dos brasileiros se renovaram; em larga escala pelo encontro sazonaldo início de um novo ano com a posse de um novo governo. Estas energias, ainda que algo supersticiosas ou meramente psicológicas, não são estéreis. Podem ajudar muito a construir coisas práticas na direção da sofrida agenda nacional.

Não seria eu a botar areia neste sentimento. Torço genuinamente que as coisas possam melhorar e até acho que melhorarão ainda que modestamente.

É que, pouco importam as ficções de contagem do tempo tão necessárias à nossa psicologia humana,o problema de partida em nosso País é objetivamente muito difícil e grave. A políticapode produzir rupturas, reorientações, e rumos novos. Mas não por si ou por qualquer fatalismo como o que deriva da mera troca de governo.

É preciso diagnostico correto, terapêutica bem administrada, equipe, disciplina, bons ventos exteriores, bom equilíbrio entre autoridade e habilidade políticas, senso de urgência e...compromisso! Uma pitada de sorte é sempre bem-vinda.

Nesta conjunção reside minha descrença objetiva em grandes mudanças. Alguns números : 13 milhões de pessoas desempregadas, 17 milhões de pessoas vivendo de bico na informalidade, 63 milhões de pessoas com nome sujo no SPC, endividamento empresarial recorde, déficit público de R$130 bilhões de reais, dívida pública superior R$5,2 trilhões de reais, um quarto disto vencendo em poucos dias; 63.800 homicídios nos últimos 12 meses, 60.000 estupros no mesmo período, dengue, chicungunha, malária e sarampo epidêmicos e um grave problema de atenção básicade saúde agravado pela saída dos médicos estrangeiros.

Em resumo, estes são alguns dos números que desenham provavelmente a mais aguda crise sócio econômica da história moderna do Brasil. Para qualquer um, a reversão deste quadro não seria fácil. Para quem permitiu a percepção simplificada ao extremo dos problemas e se deixou ver como capaz de resolver tudo a golpes de frases feitas ou de uma radicalizadaretórica que mistura moralismo com ideologia estreita...Eis as razões de meus temores.

Realisticamente, para alguém com minha experiência, talvez a palavra correta em relação ao cenário de 2019, seja uma grande interrogação! ninguém sabe, a meros momentos do inicio do novo governo o que vai ser. Nenhuma proposta concreta, nenhum dialogo sistemático com a intrincada federação politica do País, e os primeiros escândalos já tem o velho tratamento de antanho : “fiz mas eles (PT) fizeram também “.Familiares apontando potencial escandaloso também é história velha. Assim como a relativização de valores com que se olham a si e aos adversários.

A equipe é, para dizer o mínimo, inexperiente. O mais importante assessor não tem um dia sequer de vivência no setor público. Outros... bem, há os que fraudam mapas para privilegiar interesses econômicos, e aqueles que já se apresentam com práticas questionáveis. O diagnóstico, travado por um liberalismo tosco, é, para dizer pouco, equivocado.

Depois de afundarmos na terapêutica Dilma Temer, alguma reversão é de se esperar. Que venha, nosso povo precisa e merece. Mas o potencial de confusão, por esta mistura de graves problemas, grave incompetência e despreparo, equipe fraca e desconhecimento do País me permitem apostar mais na sorte...Que ela ajude nosso Brasil!

Uma palavra sobre a oposição, neste quadro. É preciso evitar o oportunismo rasteiro e demagógico; atrair o governo para o jogo democrático, força-lo a atuar dentro da institucionalidade, oferecer alternativas praticas ao equívocos sem negar a complexidade dos problemas muito menos explorar as muitas contradições derivadas da retorica tosca . A cada bobagem, uma proposta! E fiscalizar sem tréguas.

Ciro Gomes
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