Aos 37 anos, Zé Alfredo entrou em uma sala de aula com o objetivo de ingressar na universidade. Realizou o sonho e ensinou os aprendizados aos companheiros da região
Zé Alfredo iniciou os estudos aos 37 anos e passou no vestibular (FOTO: Arquivo pessoal)
A
103 quilômetros de Fortaleza, no município de Pentecoste, José de Paula
Firmiano de Sousa, agricultor e pai de oito filhos, resolveu mudar o
destino da família.
“Zé Alfredo”, como é conhecido pelos amigos, iniciou o trabalho na roça
ainda criança, aos 7 anos, plantando milho, feijão e algodão. Aos 37,
entrou pela primeira vez em uma escola com uma meta: a de ingressar na
universidade.
“Eu sentia necessidade de falar corretamente, até de discursar diante das pessoas. Percebia esse desejo,
e as coisas foram se encaminhando para que eu conquistasse algo
melhor”, conta. Por meio de supletivo, concluiu o Ensino Fundamental e o
Ensino Médio. Graças ao Programa de Educação em Células Cooperativas
(Prece), formado por estudantes de municípios do interior do Ceará, fez o
pré-vestibular. “A minha rotina era trabalhar e estudarnas horas
vagas”.
Por dois anos, ele e a filha andavam cerca de 10 quilômetros até a comunidade rural de Cipó, a fim de participar
dos estudos em células para ingressar na universidade. Iam a pé, de
canoa, de motocicleta e, às vezes, tinham a sorte de conseguir carona
até o local, que funciona em um campo aberto, no meio do Sertão do
Ceará.
O
esforço não foi em vão. Pai e filha passaram no vestibular e
ingressaram na Universidade Federal do Ceará (UFC). Ele, no curso de
Agronomia, ela em Geografia. Com a conquista, Zé Alfredo passou a morar
na residência universitária, em Fortaleza.
De
segunda a sexta-feira a rotina era voltada aos estudos para o curso.
Além de bolsista universitário, ainda fazia trabalhos extras durante a
semana. No sábado, já estava novamente em Pentecoste para trabalhar na
roça e ajudar a esposa e os filhos, ainda pequenos. “Eu ficava
trabalhando na agricultura rudimentar. Todas as culturas que davam certo
plantar, eu plantava”. Já o domingo era destinado a ministrar aulas no
Prece para ajudar companheiros da comunidade a ingressarem na faculdade,
assim como ele. “Me tornei facilitador das disciplinas, é uma
experiência muito boa”, comemora.
Programa é formado por estudantes de comunidades rurais e municípios do interior do Ceará (FOTO: Divulgação)
Zé
Alfredo, ao longo da graduação, trabalhou com afinco para que muitos de
sua região também tivessem a oportunidade de entrar na universidade.
“Se o meu Ensino Fundamental e Médio não tivessem sido na dificuldade,
se fossem muito fáceis, não daria tanto valor à universidade como eu
dou. Eu era uma pessoa da roça, não tinha o hábito de ficar fora da
minha comunidade, foi tudo muito difícil”, confessa.
Segundo
o agrônomo, o mais árduo foi ter de ficar longe da família. “Morar na
residência universitária e ficar distante da minha esposa e dos meus
filhos foi muito complicado. Toda vez que eu saía, minha filha chorava. A
gente sente muito, porque é uma mudança grande”, relata.
Fonte: Tribuna do Ceará
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