02.10.2014 | Postagem: Paulo Sérgio |
O
padre Marcelo Rossi teve seus passos, CDs, livros, missas e aparições
na TV seguidos de perto pelo Vaticano do final dos anos 90 até cerca de
quatro anos atrás.
A
investigação, que durou quase 10 anos, foi provocada por uma denúncia
feita por um religioso brasileiro, que acusou o padre de culto ao
personalismo, exibicionismo por ir demais às TVs, de desvirtuar as
práticas católicas e de transformar a missa em uma espécie de "circo".
A
investigação foi comandada pela Congregação para a Doutrina da Fé,
liderada pelo cardeal Joseph Ratzinger, que mais tarde se tornaria o
papa Bento 16. A Congregatio pro Doctrina Fidei é o novo nome que o Vaticano dá para a assassina Inquisição.
O UOL apurou com exclusividade que, entre o final dos anos 90 e a década de 2000, a Congregação recebia regularmente vídeos com as participações do padre Marcelo em programas como o de Gugu Liberato no SBT e de Fausto Silva, na Globo.
A
Cogregatio matou na fogueira, por asfixia ou afogamento centenas de
milhares de pessoas no mínimo entre os séculos 12 e século 19 (mas há
relatos de incipientes matanças já no século 10).
A Inquisição também calou, excomungou ou proibiu de ensinar milhares de padres e freiras ao redor do mundo até o presente.
Procurada,
a assessoria do padre Marcelo e do bispo dom Fernando, da Mitra de
Santo Amaro, superior direto do padre, disseram desconhecer a
investigação. A assessoria do padre afirma que, "se isso realmente
ocorreu, trata-se de um fato do passado."
O Vaticano, por meio de sua "embaixada" no Brasil, se recusou a se manifestar a respeito.
Procurada por telefone e por e-mail durante vários dias, a CNBB também se calou sobre o fato.
A
investigação foi feita no Vaticano ao mesmo tempo em que ocorriam
outras centenas de investigações a respeito de outros padres, freiras e
bispos ao redor do mundo.
A Congregação costuma se reunir aos sábados, no Vaticano.
PERTO DA SUSPENSÃO
A
reportagem do UOL levantou junto a fontes da Santa Sé que o padre
Marcelo Rossi e o bispo dom Fernando estiveram a ponto de serem chamados
ao Vaticano para prestar contas, no final de 2004 e início de 2005.
O
padre esteve próximo de ter suas atividades suspensas, bem como a
publicação de livros e CDs --por pressão do denunciante, o qual a
identidade o Vaticano mantém oculta sob sete chaves. Ele não poderia
mais celebrar missas, ouvir confissões e dar a hóstia.
Curiosamente,
o que acabou por livrar padre Marcelo da punição foi a morte do papa
João Paulo 2º, em abril de 2005, quando praticamente toda a atividade da
Congregação para a Doutrina da Fé foi interrompida com a eleição de
Ratzinger para o posto de novo papa. Ele era o "prefeito" da
congregação.
BARRADO NO BAILE
Em 2007, padre Marcelo tentou se reunir com papa Bento 16 durante a visita deste ao Brasil.
No
entanto, o padre foi impedido de se encontrar com Bento 16. Segundo
dados obtidos pelo UOL, quem impediu o papa de aceitar o encontro foram
funcionários da Congregação que estavam presentes na comitiva de Bento
16.
Segundo
eles, não cairia bem ao papa receber um religioso que estava "sob
investigação". Bento 16 concordou e se recusou a receber Marcelo Rossi
no mosteiro de São Bento. O padre o aguardara desde as 5h e mal havia
dormido, de tão ansioso que estava pelo encontro.
Na
ocasião, o UOL publicou reportagem contando o ocorrido, sobre o
impedimento do padre, com exclusividade. Padre Marcelo então negou
veementemente que isso tivesse acontecido.
Dois anos atrás, porém, em entrevista à revista "Veja", o padre se retratou e confirmou que a reportagem estava correta e que, sim, fora barrado pela comitiva de Bento 16.
O que o padre não sabia era que o veto se devia à investigação a que ele estava sendo submetido pelo Vaticano.
No
final de 2009, a Congregação decidiu encerrar as investigações sobre
padre Marcelo. Ele foi inocentado de todas as falsas "acusações".
Em
janeiro deste ano (2014), o padre finalmente foi recebido por Bento 16,
no Vaticano, e este lhe outorgou um prêmio de Evangelizador Moderno,
concedido pela Fundação São Mateus.
Foi
o final feliz para quase dez anos de suspeitas sobre o trabalho do
padre, que chamou a atenção desde que um de seus CDs vendeu quase 3,5
milhões de cópias e se tornou um fenômeno social e midiático.
DA REDAÇÃO DO ESTADO ONLINE
online@oestadoce.com.br
Fonte: UOL
(AG)
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